COCORICÓ NA CIDADE
Por Fernando Salem
O convite para criar as canções para a série Cocoricó na Cidade era irrecusável e apetitoso. Eu já havia composto 13 canções que integram o álbum do Castelo Rá-Tim-Bum e feito roteiros para diversos programas infantis da TV Cultura. Entre eles Vila Sésamo, Qual é Bicho e o próprio Cocoricó.
Mas desta vez, num único projeto, eu me envolvi, a um só tempo, na criação dos roteiros e da trilha sonora. Um grande prazer e uma enorme responsabilidade. Isso porque o programa já tinha (e tem) uma veia musical incrível expressa nas dezenas de canções já compostas pelo craque Hélio Ziskind.
Nessa nova temporada, Júlio, Lilica, Alípio e Zazá vão passar as férias na cidade grande a convite de João (o primo do Júlio). E a idéia foi criar uma atmosfera musical urbana sem perder a identidade rural dos personagens. O resultado está em 26 canções que misturam música pop, ritmos urbanos, instrumentos regionais e texturas eletrônicas. Blues, forró, samba, ska, rap, dance e cantiga de roda.
Para cada episódio foi desenvolvida uma canção ligada à narrativa da história e ao tema. Inspirado na série The Monkeys, que me alucinava quando eu tinha 8 anos, produzi as canções já pensando num clipe que funcionasse como uma sequencia da história vivida pelos personagens na cidade. E as imagens de cada clipe foram captadas com os personagens em uma locação externa urbana: Estádio de Futebol, Museu, Estação de Trem, Cinema, Feirinha Cultural, Trem Fantasma, Estação Ciências, Usina de Reciclagem, Parque de Diversão, Sala de Concertos, Bairro Japonês, Obra, Kartódromo etc.
Vocês sabem: o roteiro é a primeira coisa de um projeto áudio-visual. E a trilha é a última. Considero um privilégio participar dessas duas etapas num projeto tão bonito. No momento em que criava os roteiros ao lado de Eneas Carlos, Andrea Midori e Regina Soler, já ficava antevendo as canções-clipes, louco pra ir pro estúdio.
E as canções nasceram com muita fluência e foram pra boca dos personagens com naturalidade. Foi incrível perceber como as músicas cresciam com a intuição dos “cantatores” bonequeiros que propunham sempre uma idéia nova, uma piada ou uma entonação surpreendente. As sessões de gravação foram uma farra. E eu já estou com saudades da turma que transformou o meu estúdio num paiol.
Todo esse processo criativo foi também turbinado pelo talento descomunal de Fernando Gomes, que é o nosso diretor e é o Júlio! Puxa, puxa que puxa! O Gomes foi um parceirão! Com talento e delicadeza, sempre vinha com um detalhe pontual que fazia tudo ganhar mais sentido.
O resultado que já foi ao cinema e à telinha, agora sai em um primeiro CD com 13 canções. E até o final do ano num segundo com mais uma leva!
Ainda bem que o nosso público-alvo não é esse público-calvo que agora tem mania de baixar tudo pela web. A molecada quer é bolachinha, com capa, ilustração e muita música! Então... play na engenhoca e som na caixa!
Bóra cocoricá